JOSIAS DE SOUZA
O PT ensaia
uma coreografia grandiosa para o registro da candidatura de Lula na Justiça
Eleitoral. Será na próxima quarta-feira (15). Nesse dia, haverá manifestações
nas principais capitais. Três marchas de movimentos sociais devem chegar a
Brasília no início da semana. A multidão gritará ‘Lula livre’. Mas o PT já não
cultiva a ilusão de que a cela de Curitiba será aberta antes da eleição. Embora
seus dirigentes não admitam publicamente, o que está em curso é a montagem da
‘candidatura’ de Lula ao posto de cabo eleitoral, não mais à Presidência da
República. O enquadramento de Lula na Lei da Ficha Limpa é tratado internamente
como fava contada.
Para
vitaminar o poder de transferência de votos de Lula, o petismo aposta na
comoção. Na noite desta terça-feira, o PT levou às redes sociais um vídeo que
insinua o que está por vir. O mote para a elaboração da peça foi um conjunto de
frases pronunciadas por Lula defronte do Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo em 7 de abril, dia em que se entregou à Polícia Federal. “Eu não sou
mais um ser humano, eu sou uma ideia misturada com as ideias de vocês”, disse o
condenado, antes de ser conduzido para a cela especial de Curitiba. “Minhas ideias
já estão no ar… Agora vocês são milhões de Lulas”.
Lula e seus
operadores mantêm em pé o plano de empurrar a impugnação da candidatura
presidencial para uma data tão próxima do dia da eleição quanto possível.
Consumado o indeferimento do registro no TSE, o partido recorrerá —primeiro à
própria Corte eleitoral; depois, ao Supremo. Assim, a golpes de barriga, o PT
espera esticar a corda até meados de setembro. Nesse intervalo, enverniza-se a
pose de vítima de Lula.
Simultaneamente,
alimenta-se o noticiário com matéria-prima para a mistificação do preso. Coisas
como o estado de saúde dos seis militantes que dizem fazer greve de fome em
Brasília e as evoluções da chapa tríplex (Lula—Fernando Haddad—Manuela
D’Ávila), a ser convertida em chapa convencional (Haddad—Manuela) depois que a
Justiça interromper, finalmente, a pantomima.
O poder de
transfusão de votos de Lula será aquilatado pelas próximas pesquisas
eleitorais. Em sua última sondagem, divulgada em junho, o Datafolha informara o
seguinte: 30% do eleitorado dizia que votaria com certeza em um nome apoiado
pelo pajé do PT. Outros 17% afirmavam que talvez votariam. Uma terceira fatia
do eleitorado, estimada em 51%, declarava que não votaria num poste de Lula.
Além de
elevar o índice dos eleitores que se deixam influenciar por Lula, o PT tenta
reduzir as taxas de migração de votos do seu líder preso para candidatos de
outros partidos. Segundo esse Datafolha de junho, 17% dos eleitores de Lula
manifestavam a intenção de votar em Marina Silva se a candidatura do petista
fosse barrada. Outros 13% prefeririam Ciro Gomes. Fernando Haddad, o poste de
Lula, herdaria apenas 2% do eleitorado do padrinho. Até Jair Bolsonaro
beliscaria uma fatia maior do cesto de votos de Lula: 6%.
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